11 de jan. de 2014

A PROFETISA DA ADMINISTRAÇÃO

Mary Parker Follet: a profetisa da Administração

Nascida no final do século 19, Follet foi uma revolucionária e suas ideias construíram alguns pilares da Administração que inspiram teorias utilizadas até hoje

Leandro Vieira
Wikimedia
Imagine um pesquisador que tem ideias inovadoras em uma realidade que está vários passos aquém de sua linha de pensamento. Nesse caso, é provável que seja difícil para este pesquisador se fazer ouvir, receber crédito e conseguir avançar nas análises sobre sua teoria. Ele ainda corre o risco de ser silenciado e até ridicularizado pela sociedade que dificilmente compreenderia suas propostas. E se, na realidade, esse pesquisador fosse uma mulher e sua época fosse dominada por homens? Pois é, o tempo foi uma das barreiras para a difusão das ideias da estudiosa Mary Parker Follet, que já no início da década de 1920 forneceu as mais valiosas contribuições à Administração.
Considerada por Peter Drucker a "profeta do gerenciamento", Follet foi pioneira ao introduzir o conceito de circularidade na interação entre seres humanos. Ela explicava que no comportamento circular existem, em uma discussão aberta, a confrontação e o jogo livre na exposição de ideias. Há a integração das diferenças, ao invés de haver dominação de uma ideia sobre as outras ou a concessão das partes na busca por uma ideia comum a todos. Ou seja, surgindo um conflito em um grupo, as soluções devem ser encontradas somente com a participação de todas as partes, não por meio de uma “psicologia de adaptação”, mas de uma “psicologia de invenção”.
No entanto, a dinâmica circular, que pode sugerir um círculo virtuoso e positivo, que leva à criatividade e ao desenvolvimento, também pode criar um círculo vicioso e negativo, levando à esterilidade e à desagregação.
No momento em que um membro do grupo toma posição frente aos demais, os outros também tomarão uma posição em relação a ele. A hipótese do círculo de desenvolvimento que segue a espiral positiva prevê que o comportamento socialmente integrador em uma pessoa tende a induzir um comportamento análogo nos outros. Instaura-se, assim, um clima favorável que, de acordo com Domenico De Masi, “multiplica e enriquece a troca de informações em todos os níveis, elimina as ameaças e os medos, potencializa a coragem de tentar e errar, atrai do exterior os melhores cérebros, protege os participantes com personalidades mais fracas e os ajuda a permanecer no grupo, determina a sintonia e a ‘extensão de onda’ comum, graças às quais é mais fácil colher as mais sutis intuições, que frequentemente se revelam resolutivas”.
Precursora da Escola de Relação Humanas, Mary Parker Follet desenvolveu conceitos que foram redescobertos por estudiosos da Administração anos mais tarde. Apesar disso, poucos ouviram falar da pesquisadora pois, como afirmou Peter Drucker, nos anos 1930 e 1940, suas ideias, conceitos e preceitos desenvolvidos foram rejeitados. Seus ensinamentos eram incompreensíveis naquela realidade, em que a sociedade estava dominada por uma crença profunda na luta de classes. Patrões e empregados em eterna posição antagônica.
Follet foi uma visionária que desenvolveu um pensamento extremamente atual, que é base para o gerenciamento colocado em prática no dia-a-dia das empresas. Ela faleceu em 1933 sem ter o devido reconhecimento, mas suas pesquisas e constatações foram revolucionárias, fundamentais e até hoje fazem história na Administração.
Por Leandro Vieira e Mayara Emmily